Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
Quando a noite chega, adormecendo o dia em seus braços longos, abandono o meu corpo, sobre a cama, e a minha alma ganha balanço e voa para lá das estrelas. Sigo o rasto que deixaste para mim, por entre sois e planetas, navego, sentindo o perfume da tua pele que nunca toquei. Corto o vazio, atravesso galáxias sentindo o chamamento da tua alma, a vibração do teu corpo.
Este fio de seda, que nos liga desde o início dos tempos, resiste, tensiona-se, mas nunca se quebra, por isso escuto a tua voz, sem mesmo nunca me teres falado, acaricio o teu corpo sem nunca o ter sentido em minhas mãos, olho dentro dos teus olhos, sem nunca os ter visto. Esta noite universal, companheira de caminho, musa de tantos sonhos inventados na ponta dos dedos, acompanha-me com a sua escuridão, deixando que apenas as estrelas marquem o caminho para te encontrar.
Já o sol começa a rasgar o horizonte, quanto encontro o teu corpo desnudo, junto à margem do lago. Olhas as estrelas e pronuncias o meu nome, num chamamento, vês-me chegar, como nunca me havias visto antes. Venho sentar-me a teu lado, afagar-te o cabelo, sentir as curvas da tua pele macia e esperar pelo momento em que os teu lábios irão tocar os meus e fazer com que o dia nasça, de novo.
Digo-te, "-Estou aqui, meu amor! Sempre estive, mesmo quando não conseguias ver-me.", abraças-me e sinto a tua alma acolher-me, como se fizesse há muito parte dela. E fez-se dia...
Noite.do.sapo.pt
Acho que me apetece ser um avião.
Andar de braços abertos e sentir o ar.
Rodopiar rapidamente em manobras fluentes;
erguer os pés do chão e voar.
Sentir o vento frio acariciando-me a face,
coçando-me o cabelo, roçando-me o flanco.
Sem rumo, sem rota, sem hora para aterrar.
Encher-me de céu azul e de nuvens.
Esvaziar-me do lastro pesado que me prende ao chão.
Olhar para baixo, ver o belo e esquecer o feio.
Libertar-me.
Voar em movimentos soltos e redondos
De fazer inveja aos pássaros.
Dizer-lhes:
-“Se vocês cantam porque sabem voar,
então eu voo porque gosto de cantar.”
E tudo isto por ser saudável.
Voos partilhados
Voos repetidos